Muito mato baixo

Estive na casa dos pais do meu namorado. E claro ele estava lá também. Álias fomos juntos pra lá.

Mata adentro e algumas horas de estrada, observei pela janela o caminho. Ao se afastar da cidade o verde se torna mais expressivo e frequente. Arvores grandes e antigas, alguns lagos, vitórias régias, algumas casinhas com vida humilde aqui e acolá. 

Mas sabe, a cada saída da cidade rumo ao interior, as áreas de pastagens de gado são cada vez mais evidentes ao longo da estrada. E onde ainda não tem gado, existe um cinza de árvores mortas e mato queimado, que certamente logo serão pastagens. A cada ano vejo mais mato baixo que árvore alta ao longo da estrada.

Colo o nariz no vidro da janela para conseguir ver melhor cada detalhe. Rapidamente, muito rapidamente, o pequeno lago torna-se cada vez menor, até enfim sumir completamente. Então logo aparece um lago maior, bem mais numeroso em quantidade de vitórias-régias, tão rico de vida. Nesse momento já estou há alguns segundos sem piscar. E uma piscadela repentina, a paisagem é outra. Novamente mato baixo, por um tempo que parecem horas até enfim aparecer algumas árvores altas. E a paisagem oscila assim: mato baixo e árvore alta mas bem menos árvores altas que ano passado. 

Quando olho pela janela e só tem mato baixo e por vezes árvores altas caídas no chão, sinto os olhos pesarem e os músculos enrijecerem. Então lembro do colorido da flor, fecho os olhos e consigo visualizar cada detalhe e quase sentir o perfume. Isso traz de volta a paz e tranquilidade ao coração. Que a vida me permita sempre vê o colorido das flores ao longo do caminho, mesmo no meio de tanto cinza de mato queimado.